salve (a sociedade dos surtados)
nesse habitat impossível
resulto da crueldade
diária, horária
a possessão do medo
já encrustado no nosso nascimento
em alguns para sempre
em outros, diminuído pelos olhos abertos
não anestesiados
a censura desinforma
deseduca
quem tanto tentamos ensinar
salve-se quem puder
o dedo apontado, sem erro
ou é o que é passado um pelo outro
piorando a estória a cada pessoa
o surto vem cedo
se nem a água é dita ser necessária
imagina o cuidado com a própria mente
café para acordar três vezes ao dia
dorflex para as dores do esgotamento mental e corporal
ibuprofeno de 800 para aqueles que o anterior não funciona mais
rivotril para aqueles quem podem pagar a terapia
a que não é dita acessível
enquanto todos nós, sem pular um, precisamos
sertralina para quem ta enlouquecendo
10 horas de trabalho por dia
as vezes mais quase 3 horas de trânsito
6 horas de sono em capítulos
sempre preocupados com o amanhã
1 dia de folga
tendo que cuidar da casa
da família
da alimentação
da cabeça
da má remuneração em papéis de valor e em reconhecimento
apesar do eterno duro diligente ofício
e ainda tentar, para poucos,
ter uma vida levemente social que seja
se sacrificando mais ainda para sair do automático
o normal
em que nos deparamos não deveria ser a verdade
x
pois é apenas uma piada nacional
a vida não é apreciada
pois ela nunca foi apresentada
a sociedade dos surtados se faz pulsante
até a morte de cada um que luta e tem como recompensa,
sobrevivência
bom apenas para os que estão no poder
que são
e se sentem
acima de qualquer um abaixo do próprio salário
esse, nunca o bastante
assim como nosso trabalho que sua por todo ângulo desses corpos
hierarquias e outras impensadas atitudes arcaicas
os olhos anestesiados com as drogas necessárias rotineiras
para manter a grande máquina de dinheiro funcionando
o vício cria a criatura
salvem quem puder
pois salvar a si se tornou privilégio
nadando em merda, costume
perca-se
ou incendeia o que te incendeia
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