samba no precipício

Na minha gaveta está palavras que nunca saíram da garganta
Lágrimas guardadas nos meus olhos
E hematomas escondidos sobre as roupas
Minha boca tampada pelas minhas mãos
abafam gritos antigos e recentes das vozes da minha cabeça

numa espiral, eu me mantenho 
no dia a dia, eu sou maquinaria 
não sei onde pertenço 
o buraco no meu peito
judia dos meus sonhos que ainda perecem

Tento apagar os surtos que tenho na madrugada
Sinto um peso no peito diário, 
sendo apagado pelo mundo
Esquecendo de quase tudo
Me tornando quase nada
apesar de ser tanto que não cabe nem no meu próprio mundo
E sentindo desespero quase sempre
Mundo esse que sempre está em colapso
Com medo de mudanças

em piloto automático para não me tornar mais lunático
do que já sou

a aceitação dos paradigmas é mais forte
Do que a esperança em mim
Perdido no que sou, fugindo de mim
e me procurando em lugares que jamais pensei em ir
Me tornei boêmio pelo estresse,
alcoólatra pelo amor e suicida pela dor

essas palavras de tristeza entaladas
parecem hipérboles
com pitadas de eufemismo
no entanto
é mais surreal do que a própria realidade

sambo no precipício
rindo do acaso
de tão acostumado em estar exausto

Vivendo de ilusões feitas por mim
Para não lembrar da falta que você faz para mim
Teu olhar que me seduzia,
teu sorriso que me encantava,
teu corpo que me hipnotizava
Agora jaz como memória e saudade até a próxima vez

Vamos nos anestesiar juntos,
entrelaçados em paixão e tristeza
que apesar de diferentes origens
caminham paralelamente
numa perdição um tanto viciante
que nos desconecta de nossos dramas
e nos revigora o bastante para o momento

Ainda aqui já com sede de mais
mais de você, mais de nós,
mais do que alivia e remedia as dores que nos habitam.


(Escrito por mim e Kauêt Machado)

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