Abismo-Gatilho-Medo.

eu acabei de tremer
de dentro pra fora
transparecendo nos meus movimentos
no som das minhas palavras
me fingindo, com elas, ser consistente e dominante
porém dessa vez tudo o que eu não sou é
sólida e alfa

há um grau de atingir o estado líquido total,
se não fosse meus pés cravando no chão,
eu teria desmoronado, ali mesmo, naquela cozinha
de tanto medo que senti
um medo completamente racional, esse é o pior de tudo.

não consigo viver aqui
sobreviver é meu ultimo recurso
e nesses momentos é
quando percebo o quanto
é difícil

eu não pertenço à esse lugar
um casal de bipolaridade & violência
amor se já houve ali,
este se esvaiu sem nem pensar duas vezes
isso não é amor
toda essa violência mascarada de esporádicos carinhos
eu nunca quererei isso para mim ou para os meus

isso é ferimento submisso
isso é ser tolo o bastante para deixar não permitindo
isso é engolir sapos
isso definitivamente não é amor.
E amor, aqui, eu nunca senti.

eu acabei de passar por um momento
em que perdi o ar por uns 3 segundos
segundos estes,
que pareceram horas
silenciosas, selvagens, infinitas

senti-me amordaçada
com um saco na cabeça
dentro d'agua
presa por uma corda
e meu sangue se espalhando pelo oceano
atraindo predadores
meus olhos e minha pele sentindo
eles chegarem cada vez mais perto,
sem poder me defender, me salvar, acordar.

Isso é o que ninguém vê.
Não, não está tudo bem.
E definitivamente, não vai ficar.
Isso aqui é só um acordo por não ter para onde ir
isso aqui não é um lar,
nem por um momento,
nem nunca foi.

não adianta mudar, sozinha,
enquanto não dão nem um passo
em direção a própria reorganização.
Você não está aqui para sentir o que sinto
quando estou perto dele.

Dela, eu consigo me esquivar,
mudar de assunto
contornar o vasto jardim de seus devaneios
mesmo que tenha seus abismos, sim,
infelizmente.

com ela, eu quero faze-la melhorar ou sumir
de perto de sua transpiração em forma de gelo
com ele, eu só quero cometer um crime
o qual nunca me arrependeria.
a junção deles me faz querer praticar esse crime comigo mesma.
eu não consigo respirar.
somos ímãs contrários, não consigo pensar.

internem-os
ou não me veja mais.
e, antes de qualquer interpretação,
isto não é uma ameaça,
é, sim, uma possível realidade a qual me esforço a não fazer
pois eu me amo demais, para me desperdiçar
mais do que já fiz em todo meu passado.
eu quero correr daqui
não ter mais notícias
eu preciso respirar.

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