hereditariedades

você sempre esperou demais de mim

eu sei das suas histórias e lutas e sofrimentos e carências

mais parece que você não vive presente

mas em passados duros

como se sua cabeça estivesse lá ainda

e não aqui, para perceber

vendo e escutando o que tanto tentei

e ilusoriamente ainda tento lhe dizer

você sempre esperou demais de mim

como se você quisesse que eu fosse o que você nunca conseguiu ser

suas faltas e seu negacionismo quanto a elas e mais

eu só queria sentir seu consciente 

eu só queria o seu abraço

com seus olhos e pele e ouvidos 

e continuo acreditando que um dia conseguirei

mas será que não estou me enganando por ter essa falta,

sendo assim, algo hereditário?

o que você sente sob seus pés?

qual a sensação quando você respira?

seus passos cômodos temem

o adiante, o diferente, o peculiar

que é o que eu sempre fui

e você nunca conseguiu compreender

e abraçar as minhas

individualidades, processos internos e amadurecimentos tardios 

e a primeira causa destes são você

algo que também nunca passou pela sua cabeça

pois nela você está sempre certa e insegura e cheia de sonhos e rotinas  

sem nenhum contato com sua criança interior

pois afinal você não conheceu ela em toda sua ingenuidade

pelo tempo que deveria

desgarrada tão cedo,

distanciada do lugar mais puro

sem aviso, sem entender 

você me quis fazer adulta logo

mas não viu que estava me adulterando 

nem que eu só precisava do seu apoio 

que a culpa não era completamente minha 

apenas essas emoções tão agarradas nesse dna 

você sempre esperou demais de mim

como se eu fosse uma segunda versão de você

e não uma primeira de mim mesma