numa lua em virgem

essas pernas
que antes bem bambas caminhavam 
tropeçando quase sempre 
em obstáculos aleatórios
alguns imaginários
pernas estas, grandes, fortes
mas que não se sentiam da forma que eram em sua essência
por não sentir segurança
ao pisar no chão sob seus pés
por achar que iam cair
junto com todo o corpo
como em um sonho 
em que se para de respirar
e o cérebro envia uma mensagem de que você precisa voltar
e te causa um pequeno susto 
apenas para sua alma reentrar aquele corpo
em que a mesma preferia estar fora 
quase toda noite
pois a dor que nele habitava era demais
para ela conseguir aguentar sem quase apagar sua luz
gostando da escuridão ela preferia manter um ponto iluminado
só para saber onde estava, e onde poderia ir 
ela queria continuar dançando
e o corpo só queria se manter deitado,
amontoado num canto
como roupas tiradas do varal há sei-lá-quanto-tempo
e após um tempo ainda maior
maior do que este parece na visão de duração humana terrena 
agora a alma abraça aquele mesmo corpo
e sente estabilidade em suas planícies
e placas tectônicas
como se elas aprendessem a não se sobrepor,
a não se atropelar e nem se pesar umas sobre as outras 
como se aquelas mesmas pernas
finalmente aprendessem a caminhar sem tremular
agora a sintonia do corpo e alma é mais bela do que uma poesia
e indescritível
apenas metáforas como essas
e outra em forma de certeza de que
eu sinto orgulho
de ter chegado nesse nível do jogo mais difícil que me mantive a jogar 
no entanto com entregas quase absolutas,
e quase desistências de/como um todo 
pois no fundo de alguma parte de mim
eu sabia 
eu sabia que era capaz
e que todas aquelas vozes na minha cabeça
não eram de fato minhas
mas a montanha russa da minha ansiedade 
num misto de gatilhos familiares
agora essa alma, esse corpo, essas pernas
sentem em suas peles
visíveis a olho nu ou não
a segurança mais segura que já foi sentida por este terreno
a verdade através do véu mais grosso
o sentimento mais puro, abstrato e concreto e muito mais
de ser 
e não duvidar tanto dessa minha interseção quanto um dia tanto fiz 
de que todos esses frutos maduros 
são resultado de uma imensurável luta pela auto percepção e cuidado
e a consciência de que ainda haverá muito mais pela frente
que todo esse conjunto que sou eu está preparado pro que vier
apesar de qualquer pesar.

sou nebulosas, sou celeste, sou terrestre, sou nuclear. 

o chão que piso eu quero estar.

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