Meu Abuso.
preciso eu por algum acaso propriamente dito ser igual a você nas ações e escolhas?
só porque é normal se abrir, não quer dizer que eu o vá fazer
digerir, é o que eu não consegui fazer com aquela madrugada
terminei por sub-julgar o meu reflexo no espelho
vivendo de sobrevida
em restos de fortuna - qualquer uma
fui banquete enquanto não havia qualquer semelhança disso em retorno
achei que seria diferente quando acontecesse comigo
dei a certeza a mim antes de acontecer
de que eu lutaria, me esquivaria, fereria, deteria
da forma que fosse possível
porém tudo o que eu fiz foi prender as pernas
o que de nada adiantou
pois a sua força era multiplicamente maior do que a minha
o cansaço e o susto me tomaram
o medo suspirou no meu ouvido
e transpirei um suor gelado até o término.
parte de mim se culpa pois é fácil dizer
porque não o derrubou?
porque não gritou a negação?
porque não saiu correndo?
a outra parte tem a consciência de que
o corpo não respondia
o grito não saía
enquanto, como uma boneca ele me usufruía
do travamento da mandíbula
ao resto dos ossos
do abuso à contar como aconteceu
é claro que eu não queria
do que acham que sou feita?
a doença ninfomania?
no silêncio matinal, tudo o que pensei foi
e u q u e r o s a i r d a q u i
ao chegar em casa
nunca um banho foi tão longo
o sujo parecia que pertencia a meu corpo e entranhas
a água dos olhos se fundiu a do chuveiro
e eu não conseguia
e ainda não consegui explicar para mim mesma
porquê?
como então vou eu pôr em palavras como me sinto?
o sal grosso não limpa esse tipo de sujeira
como vou tentar me equiparar ao seu sofrimento eterno?
não, eu não vivi nem distante do que você viveu
talvez um dia eu aceite essa condenação
mas agora eu me encontro no desencontro com a aceitação.
naquele momento eu queria estar ativa nas vesículas
pois assim, sentiria hoje o alívio de ter me defendido.
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