a saudade

a saudade pode ferir
porque as vezes ela vem enorme
e perfura o peito
em busca do coração 
que, em hemorragia,
briga com a razão 
com unhas, dentes e facadas
apunhalando mil vezes
o pior de tudo é que
essa demasia não mata, apenas machuca
e se invoca sempre de repente
ou na ciranda da repetência 

esse sentimento contraditório
de te querer demais 
e não poder ir atrás 
pois seria me humilhar
enquanto não há retorno,
não há busca do outro lado,
nem uma amostra se quer da mesma saudade
que selvagem e sem permissão,
faz em mim inconveniente moradia
sem hora pra ir embora 

no meio do oceano,
começando a perceber que essa
é mais uma paixão solitária
onde eu novamente achei
que era recíproca,
que valia lutar
com unhas, dentes e lições 
continuando assim o entrelace
o pior de tudo é que
o que ficou no lugar de toda a troca intensa
foi uma estranha frieza e
um silêncio ensurdecedor

aqui, jaz uma alma ferida
pela saudade

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