Dualidade sem Gentileza

O que eu vejo em você

não é o que você consegue ver

(des)confortavelmente acomodado

em um espaço pequeno demais

as paredes parecem te espremer

quando você está prestes a implodir

em emoções a flor da música

uma forma de libertar uma parte de si mesmo

para desanuviar e desprender

do que tanto te puxa pra baixo

em cada crise, em cada oscilação

que se intensifica e se nega ajuda

em uma dualidade crua

que se esquece da tão essencial gentileza

ouvi de um passarinho

a certeza que eu queria saber

de que você é genuinamente bom

e tem potencial pra tanto mais

só ainda não consegue ver através disso

como ambas de nós conseguimos

queria que você ouvisse

esses conselhos de bom senso

com o mesmo detalhismo e carinho

que ouve uma melodia e sente sua letra

e eu me sinto impotente

pois toda intenção com fundo de preocupação

é decididamente ignorada

como se você ou qualquer um

conseguisse viver completamente sozinho

(in)conscientemente sabendo que somos todos seres sociais

podemos desfrutar da solidão

mas não deitar nos braços da solitude

pois sua vozes se disfarçam de acalento

enquanto sugam toda sua energia

te largando em um deserto de miragens

para se perder e se encontrar e se perder mais uma vez