através de mim e minhas névoas

uma grande parte de mim sangrava por um cuidado diferente
um afeto descompassado
os instrumentos mais graves e singelos de uma orquestra no começo da sinfonia
um outro batimento cardíaco 
um tanto mais forte, mais vivo
harmonizando algumas noites de sono

e esta parte foi preenchida
encaixada
o conforto se fez
certezas sobrepuseram inseguranças
que meu cérebro e coração brincavam a me iludir
antes fazendo-me abraçar como verdadeiro o que não era assim tão real 
agora o silêncio parece uma música diferente 

porém
no momento em que entrei no carro
algo mudou
não sei exatamente o que 
a confortabilidade na pele e além
dá lugar a memoriabilidade de todas as formas de toque que nesses dias de calor e vento fui percebida e percebi 
talvez o choque do    tchau
e do "...afinal sei lá quando nos veremos de novo"

duas personalidades tão distintas ainda que peças importantes
nesse quebra cabeça mais atual 
como podem?

te observo do corpo a energia a temperatura às sinapses cerebrais ao espírito 
e sem querer querendo continuo com uma certa expectativa, velha habitante dessa ansiedade 
aqui, no meu canto, em mais uma noite, em mais um amanhã
com novos aprendizados, outros encaixes do desejo e do necessário
para mais e mais reflexões de outroras a outros despertares, costumes, instantes
de solidão chorosos de mãos dadas com uma pequena paranóia mascarada 
que por vezes perduram além dos dias mais sangrentos 
além das metáforas e hipérboles realistas 
além de mim

eu preciso meditar sobre de onde vem e para onde vai todas as minhas avalanches
a aprender com os erros de todos os ângulos que eu puder avistar 
mesmo que a reconfiguração não me possa pertencer as minhas rotinas por motivos óbvios tão meus  
a minha bússola apontará sempre para a minha intuição
o desafio está em enxergar através de mim e minhas névoas 

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